domingo, 20 de novembro de 2022

Conversando Com a Vida Através da Poesia

 

A Borboleta Azul

 

Naquele lindo verão

Os caminhos, ela enfeitava

Com sua rara beleza

À luz do sol brilhava

Como símbolo de esperança

Inspirava confiança

E felicidade exalava.

 

Sonhava em voar mais alto

Ir na cidade morar

Transformar-se em uma linda mulher

E os horizontes ampliar

Vivendo em harmonia

Distribuindo simpatia

E na história ficar.

 

Contrariando a geografia

No caminho encontrou

Um fabuloso pinguim

Conhecido por imperador

Que junto com a águia negra

Sem nenhuma incerteza

A borboleta azul adotou.

 

Ela voou de alegria

Porque só, não mais estava

Que teria proteção

Certamente acreditava

Quando após a curva, avistou

Um lindo pé de amêndoa, onde pousou

O que lhe deixou emocionada.

 

Do alto da amendoeira

Um avestruz, ela viu

Que ao vê-la, do recinto

Ligeiramente saiu

Como se incomodado

Ou sentindo-se ameaçado

O grande avestruz partiu.


A borboleta inocente

Na areia do rio foi pousar

Lá encontrou um falcão

Que veio lhe encontrar

Com expressão de felicidade

Com um acolhimento sem maldade

Em suas asas, a deixou descasar.

 

Construíram uma parceria

Que ciúme despertou

Pois eram tão parecidos

Que o amor ali reinou

Tinha um ar de cumplicidade

Tudo era felicidade

Que o tempo nunca apagou.

 

Com a chegada da primavera

Um lindo canto escutava

Do incrível rouxinol

Que alegremente se aproximava

Disseminando amor

Deixando satisfeito, o pinguim imperador

Que um cuidador encontrava.

 

Inacreditavelmente vimos

Uma grande ave pousar

No topo de uma ladeira

Era um grande casuar

Que com seu jeito diferente

Parecia convincente

E pôs a se aproximar.

 

O pinguim imperador

Pelos campos caminhava

À procura de um lugar frio

De longe, um macuco avistava

Encontrou seu preferido

Solitário e perdido

Que por nada, o deixava.


Na sequência da viagem

Uma calopsita macho encontrou

E sem nenhuma dúvida

Para o convívio levou

Pois era bem carinhosa

Dócil e bastante cuidadosa

E muito bem se adaptou.

 

Pousou no grande jardim

Em um ensolarado dia de verão

Um belíssimo beija-flor

Causando muita emoção

Alegrando o ambiente

Deixando todos contentes

E ganhando a aprovação.

 

Em busca de um clima frio

O pinguim imperador partiu

Deixando a águia negra

E a família, que com ela construiu

Tudo ficou complicado

Cada um foi para um lado

E o elo se partiu.

 

Os anos iam passando

De vez em quando ele voltava

A família, nunca abandonou

Pois mesmo de longe cuidava

Sua maior satisfação

Era vê-la em união

Isso muito o alegrava.

 

A borboleta azul

Para cidade voou

Por melhoria de vida

Ela muito, sempre lutou

Passou muita humilhação

Não encontrou proteção

Mas do foco, não desviou.

 

Por ela ser adotada

Quase sempre, esteve só

Remando contra maré

Sofrendo de fazer dó

Mesmo assim, acreditou no impossível

Tornou-se quase indestrutível

E desatou muito nó.

 

Cada vez mais solitária

Via o tempo passar

Lutou com todas as forças

Mas pouco saiu do lugar

De todos sempre cuidou

Mas quando ela precisou

Dela, ninguém quis cuidar.

 

Já com a idade avançada

O pinguim imperador ficou doente

O rouxinol cuidou dele

De maneira eficiente

Com o tempo foi piorando

Suas forças acabando

E a respiração diferente.

 

A borboleta azul

Ao lado do pai ficou

E enquanto foi permitido

Com carinho, dele cuidou

Mas como era filha adotiva

Sua presença foi proibida

Quando a morte o levou.

 

Com a morte do pinguim imperador

Todo laço se rompeu

E a solidão da borboleta

Com isso ainda mais cresceu

Hoje ela vive isolada

Por ninguém mais é lembrada

Foi assim que aconteceu.


Se outra versão da história

Ouvir por aí contar

Não passa de mentirosa

Impossível de acreditar

É que é cada palhaço

Que não encontra embaraço

Para inocente difamar.

 

Tem quem venda a alma ao diabo

Para poder aparecer

Monta palco até em velório

Para o centro das atenções ser

De anjo vira demônio

Age como um insano

Tudo para se autopromover.

 

Mas o azul da borboleta

Isso nada pode tirar

O seu brilho natural

Ninguém poderá roubar

Solitária, porém sorridente

Segue sendo indiferente

A quem quer lhe apagar.


Cleonice Machado

Amarante, 20 de novembro de 2022



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