domingo, 26 de junho de 2022

Só Quando a Memória Apagar

 

Só Quando a Memória Apagar

Só quando a memória apagar

Irei deixar de lembrar

Das borboletas azuis.

Daquele pé de amêndoa

Onde eu gostava de brincar.

Daquela casa de barro

Da água escura da fonte

Da casinha no quintal.

Da grande ladeira na curva

Do algodão que eu fiava

Daquelas secas palhadas

Onde alimento eu ia pegar.

Do carvão de caneleiro

Da pescaria com arroz

Ou mesmo do fachiar.

Como esquecer da labuta

Dos desafios constantes

Que até mesmo a esperança

De mim às vezes afastou?

São coisas que na memória

Insistem em permanecer

E companhia me fazer.

Quando olho para traz

Percebo a minha força

E minha perseverança

Pois pequena fui um dia

No entanto, não tive infância.

O que trago na lembrança

É a dor de uma criança

Sonhando um dia vencer

Para do sofrimento esquecer

Ou da memória deletar.

Mas como deixar de lembrar

Do que me motivou a lutar

Na vida acreditar

E a realidade mudar?

 

Só quando a memória apagar

Irei deixar de lembrar

Daquela toalha de saco de pano

Com o meu nome bordado

E daquele vestido de chita

Que presente mais bonito!

Dos vestidos de princesa

Que quando pequena usei.

Dos longos cabelos pretos

Do futebol com os meninos

Das medalhas nas corridas

Que pela vida ganhei.

Dos boletins só com O

Que por 10 depois troquei.

Dos cadernos que eu usava

Sem nenhuma linha saltar

E nenhuma folha arrancar

Para o ano inteiro durar.

Mas como deixar de lembrar

Do que me motivou a lutar

Na vida acreditar

E a realidade mudar?

 

Só quando a memória apagar

Irei deixar de lembrar

De cada pessoa que ao meu lado

O caminho percorreu.

De cada palavra dita

De cada colo oferecido

De cada ombro amigo

Que a mim ofereceu.

Das que comigo falaram

Das que até se calaram

Para a vida as levarei.

Das com quem eu aprendi

Até das com quem  insisti

Das com quem eu convivi

E das com quem nem falei.

Tudo é aprendizado

Pois até com o não falado

Pude muito aprender.

Pessoas são um presente

Que entram na vida da gente

Para nos ensinar a viver.

 

Só quando a memória apagar

Irei deixar de lembrar

Dos amores que vivi

E até dos que fantasiei

Porque em meu coração morou.

Alguns deles complicados

Outros até encantados

Que meu sossego tirou.

Cada um com sua história

Gravado em minha memória

Que o tempo não apagou.

Momentos de alegria

Momentos de nostalgia

Cada um assim marcou.

Os que queriam ficar

Os que só queriam passar

Meu coração registrou.

Existem os superados

Existem os não encerrados

Que o vento não levou.

Cada um com o seu jeito

Bateu ou bate no peito

E a mim, um dia encantou.

Os que estão no meu sonhar

Os que insistem em ficar

No peito e provocar dor.

Vivido ou sufocado

Saudável ou complicado

Adormecido ou enraizado

O que importa é o amor.



Nenhum comentário:

Postar um comentário